O início deste artigo é baseado em um diálogo real.
– Eu preciso do meu prontuário. Você pode me enviar, por favor?
– Eu não faço esse documento.
– Como assim? Como vou saber sobre meu processo psicoterapêutico aqui com você?
– Se quiser eu te falo agora, mas eu não faço esse documento.
– Eu preciso do prontuário para enviar para um outro profissional.
– Eu não faço mesmo.
A resposta dessa psicóloga ou desse psicólogo pode ter acontecido por desconhecimento ou por não ter registrado as evoluções no decorrer do processo. Embora o motivo não importe muito, já que ambos resultam em falta de ética profissional, vamos supor que foi por desconhecimento.
E o desconhecimento a gente combate ampliando a informação.
Então, o que é um prontuário psicológico?
Imagine um diário, só que em vez de pensamentos, reflexões e sonhos, contém o histórico clínico, as percepções, intervenções e o desenvolvimento da pessoa atendida. Isso deve acontecer desde as primeiras primeiras sessões até a finalização do atendimento, seja por qual motivo for.
É uma ferramenta crucial que guia o processo psicoterapêutico, garantindo que tanto você quanto a pessoa que você atende saiba exatamente onde estão agora e para onde estão indo depois.
Gostamos de pensar também como uma bússola de orientação ao longo do tempo e nessa bússola cabe dizer o que não é um prontuário psicológico.
- Não é algo opcional – legalmente você precisa fazer!
- Não é um amontado de anotações
- Não é um caminhão de detalhes de tudo o que aconteceu nas sessões
A importância do prontuário vai além da mera documentação
Ele promove uma prática baseada em evidências, permitindo que reflitamos sobre o processo e seus resultados. Como você sabe que seu processo psicoterapêutico está sendo efetivo?
Em uma era de crescente responsabilização profissional e demanda por transparência, o prontuário se torna uma peça chave para demonstrar a qualidade e o cuidado que devemos ter no nosso trabalho.
Além disso, esse documento facilita a continuidade do cuidado. Em situações onde a pessoa atendida precisa de outra pessoa profissional – como foi o caso do começo – um prontuário bem mantido assegura uma transição efetiva sem perda de informações.
É um direito da pessoa atendida
A ampliação do acesso à psicoterapia fez com que as pessoas também se informassem sobre seus direitos. O que poderia ser bem raro antes, como solicitar acesso ao próprio prontuário psicológico, hoje já acontece de forma mais recorrente.
As pessoas estão buscando mais efetividade em seus tratamentos e elas, além de terem o direito garantido pelo Conselho Federal de Psicologia, têm razão.
O que a gente esquece às vezes é que esse direito, na verdade, fortalece a transparência e a colaboração entre profissional e pessoa atendida.
E como fica a privacidade nisso tudo
Entendo que possa haver preocupações sobre a privacidade e a confidencialidade das informações contidas nos prontuários. No entanto, as diretrizes éticas e legislações específicas são claras e rigorosas, garantindo que esses registros sejam manuseados com o máximo cuidado, protegendo assim as informações sensíveis de nossos pacientes.
A ética profissional e as leis são super rigorosas quanto à confidencialidade desses registros. Somente pessoas autorizadas (ou seja, você e seu terapeuta) têm acesso a essas informações. Isso garante que sua jornada de autoconhecimento permaneça tão privada quanto você desejar.
Um olhar para além da burocracia
Toda vez que bater aquela preguiça de fazer mais uma tarefa burocrática, pense no prontuário psicológico como uma ferramenta que, se bem utilizada, amplifica nossa capacidade de fazer uma diferença significativa na promoção da saúde mental.
É o símbolo de ética, integridade, colaboração e de centralidade na pessoa. Além disso, é um compromisso com um tratamento fundamentado na confiança e em uma prática responsável.
Um processo psicoterapêutico com prontuário sempre atualizado não é garantia de sucesso, mas um processo psicoterapêutico sem atualização de prontuário é, com certeza, estar mais perto do fracasso.