Bem-estar de US$ 2 trilhões: como Millennials e Gen Z estão transformando o mercado (e sua clínica)

Décadas atrás, cuidar da saúde era quase um luxo – algo para quando sobrava tempo ou dinheiro. Hoje, isso se inverteu: para millennials e geração Z, bem-estar é uma prioridade diária e até um estilo de vida.

Academias, suplementos, apps de meditação… o que antes era pontual agora faz parte da rotina. Não é de se espantar que o setor global de saúde e bem-estar tenha explodido para cerca de US$ 2 trilhões, com os jovens à frente dessa revolução.

Mas o que isso significa para quem atua na linha de frente, como profissionais autônomas de saúde, de bem-estar e pessoas donas de clínicas?

Neste relatório, vamos dissecar as descobertas do estudo da McKinsey “The $2 Trillion Global Wellness Market Gets a Millennial and Gen Z Glow-Up” e traduzi-las para a realidade de empreendedores da saúde e bem-estar.

O objetivo é equilibrar análise com sugestões práticas para você já se preparar ou aplicar no seu conteúdo, prática ou clínica.

Vamos para insights que podem te ajudar se posicionar ou colocar sua clínica como referência nesse mercado em ascensão?

Bem-estar diário: os Millennials e a Gen Z redefinem o jogo

A ascensão das gerações mais jovens mudou o conceito de bem-estar.

Para nós, Millennials, e para a Gen Z, cuidar do corpo e da mente não é mais uma atividade ocasional, e sim parte do dia a dia .

Eles enxergam bem-estar de forma ampla, englobando saúde física, mental, sono, nutrição, aparência e mais.

Esse novo olhar está direcionando os rumos da indústria de bem-estar, que vem se expandindo além de categorias tradicionais (fitness, dieta, etc.) para incluir beleza, mindfulness, tecnologia vestível e outras áreas.

E embora sejam os jovens que impulsionam essa mudança, até consumidores mais velhos estão adotando uma definição mais abrangente de bem-estar.

Os números confirmam que bem-estar virou mainstream.

Nos Estados Unidos, estima-se que o bem-estar movimente mais de US$ 500 bilhões por ano, crescendo 4% a 5% anualmente. Mesmo com desafios econômicos, trata-se de um mercado resiliente: em uma recessão, consumidores cortam gastos em moda ou entretenimento antes de reduzir investimentos em saúde e bem-estar.

Aliás, 84% dos consumidores americanos afirmam que bem-estar é uma prioridade importante em suas vidas (no Reino Unido são 79%, e na China impressionantes 94%).

Não é exagero dizer que, globalmente, buscar bem-estar deixou de ser luxo e virou essencial.

Vale notar que as gerações mais jovens estão puxando os gastos: embora representem cerca de 36% da população adulta, Millennials + Gen Z já respondem por mais de 40% do consumo de bem-estar nos EUA.

Elas gastam proporcionalmente mais com saúde e qualidade de vida que as gerações anteriores – reflexo de valores diferentes, maior exposição a conteúdo fitness e de saúde nas redes sociais e também de necessidades (os jovens relatam mais estresse e burnout, por exemplo).

O recado é um só: bem-estar está no centro das decisões de consumo. Se você é profissional da área, precisa perceber essa mudança cultural.

Seu público – especialmente clientes mais jovens – vê saúde e autocuidado como parte integral do estilo de vida.

Já notou pacientes falando sobre o último aplicativo de meditação ou comparando marcas de suplementos? Esse é o “novo normal”.

A pergunta que fica é: sua clínica ou serviço está pronta para atender a essa geração “wellness”, que demanda conveniência, personalização e uma visão 360° da saúde?

Perfis do consumidor de bem-estar: conheça seu público

Nem todo cliente enxerga bem-estar da mesma forma. A McKinsey identificou cinco segmentos de consumidores de bem-estar, categorizados conforme o grau de entusiasmo e prioridade que dão ao tema . Entender em qual perfil está sua base de clientes pode ajudar a ajustar sua estratégia de atendimento e marketing. Em resumo, os segmentos são:

  • Otimizadores maximalistas (~25% dos consumidores; ~40% dos gastos do setor ): são em sua maioria jovens digitais, que experimentam uma ampla gama de produtos e serviços de saúde. Pesquisam exaustivamente e buscam soluções “perfeitas” para si. Valorizam evidências científicas e recomendação de especialistas, mas também sofrem influência de tendências nas redes sociais. Prioridade número um: qualidade – estão dispostos a pagar mais por algo que entregue resultado. Dica: Para atrair esses clientes, comunique o embasamento científico por trás do seu serviço de forma acessível e marque presença nos canais digitais onde eles se informam (vídeos, avaliações online, redes sociais)

  • Entusiastas confiantes (~11% dos consumidores; 15% do gasto total ): este é o menor grupo em tamanho, mas não menos importante. Extremamente comprometidos com o bem-estar, especialmente em fitness – são aquelas pessoas “ratas de academia”, que têm vários apps de treino, equipamentos em casa e dieta regrada. Eles pesquisam as opções, mas quando encontram algo que funciona, tornam-se fiéis à rotina e à marca. Costumam ter alto valor de tempo de vida (LTV) para quem os conquista. Dica: Se você conseguir trazer um entusiasta desses para seu programa ou clínica, foque em mantê-lo engajado com novidades e desafios crescentes, pois a lealdade deles é alta quando veem resultados consistentes

  • Tradicionais de saúde (~20% dos consumidores; 13% dos gastos): predominantemente de gerações mais velhas, se importam com saúde e bem-estar, mas de forma simples e prática. Concentrados no básico bem feito – boa alimentação, vitaminas, exercícios moderados. São céticos quanto a inovações ou “modinhas”: não adotam facilmente telemedicina, aplicativos avançados ou tratamentos de última geração. Esse cliente compra pelo feijão com arroz: qualidade, segurança e eficácia comprovada, não pelo apelo da novidade. Dica: Para atender tradicionalistas, enfatize os fundamentos. Mostre que seu serviço entrega exatamente o que promete, com ingredientes de qualidade e transparência, em vez de tentar impressionar com tecnologias ou tendências da moda

  • Lutadores da saúde (~24% dos consumidores; 22% dos gastos): são pessoas que tentam, mas têm dificuldade em manter hábitos saudáveis. Relatam sentir-se estressadas com sua saúde e lutam especialmente com manter peso e rotina de exercícios. Têm vontade de melhorar, mas frequentemente desanimam ou não sabem por onde começar. Para eles, o bem-estar não é tão prioritário quanto para os grupos acima – talvez porque os esforços anteriores geraram frustração. Dica: Tornar a jornada de saúde mais fácil e motivadora é a chave para esse grupo. Por exemplo, ofereça pequenas metas alcançáveis, acompanhamento próximo e incentivo contínuo. Estratégias lúdicas como gamificação (programas de desafios, recompensas por frequência etc.) podem ajudar a engajar quem perde motivação facilmente . Simplifique os passos e comemore progressos, por menores que sejam, para reduzir a sensação de sobrecarga

  • Desligados de bem-estar (~20% dos consumidores; 10% dos gastos): aqui estão os que menos se importam com saúde e bem-estar. Costumam comprar só o essencial (remédios básicos, por exemplo) e são altamente sensíveis a preço. Em geral, não procuram ativamente serviços de bem-estar – muitos só vão ao médico quando algo dá errado. Dica: Esse não será seu cliente mais engajado, então não gaste todo seu fôlego tentando convertê-lo em “maromba” da noite para o dia. Ainda assim, vale ter ofertas acessíveis e objetivas para atendê-los quando aparecerem (por exemplo, um check-up básico de baixo custo ou orientações bem práticas). Mostre como pequenas ações de saúde podem caber no bolso e na rotina, desmontando a ideia de que bem-estar é complicado ou caro demais para eles

Depois de ler esses perfis, pense: em qual categoria se encaixa a maioria de seus clientes atuais? Você consegue ajustar sua comunicação para falar a língua de quem você atende?

Por exemplo, se seu público é majoritariamente de “otimizadores” jovens, convém publicar conteúdo com referências científicas e estar ativo no Instagram/TikTok.

Se são “tradicionais” mais velhos, talvez o melhor apelo seja um atendimento atencioso e tradicional, destacando sua experiência e a confiança que você oferece. E se você atrai muitos “lutadores da saúde”, que tal implementar um sistema de acompanhamento periódico (lembretes por WhatsApp, quem sabe) para mantê-los firmes nos objetivos?

Conhecer seu público a fundo é o primeiro passo para entregar valor de verdade e criar fidelização, se for o caso.

Tendência 1: nutrição funcional, a comida como remédio

Na imagem: um smoothie verde, símbolo da tendência de nutrir o corpo com alimentos funcionais. Os alimentos e bebidas que prometem benefícios à saúde – além de nutrir, tratar ou prevenir algo – estão ganhando espaço no prato do consumidor.

O mercado de nutrição funcional não para de crescer: em países como EUA, Reino Unido e Alemanha, aproximadamente metade dos consumidores (e dois terços dos Millennials e Gen Z) compraram produtos dessa categoria no último ano.

Na China, a adesão é ainda maior. Os objetivos variam desde obter mais energia, melhorar a saúde intestinal, reforçar a imunidade até dar suporte a músculos e articulações, ou seja, comer pensando em resultados específicos.

Esse movimento reflete a tendência de encarar a comida como remédio preventivo. Antes, “comer saudável” significava principalmente cortar ingredientes ruins (como gordura, açúcar, glúten). Agora, os consumidores procuram adicionar ingredientes funcionais nas refeições: proteína extra, compostos bioativos e até substâncias como nootrópicos (que melhoram a cognição) ou cúrcuma anti-inflamatória.

Ou seja, não basta a barra de cereal ser sem açúcar; melhor ainda se ela tiver colágeno para a pele ou adaptógenos para reduzir o estresse. E vale quase tudo: o conceito de nutrição funcional vai desde “comer comida de verdade” (frutas, verduras, fermentados) até pós verdes detox, cogumelos medicinais, kombuchas probióticas e outros “superalimentos” da moda .

Para os profissionais, fica a lição: nutrição e bem-estar andam de mãos dadas.

Mesmo que sua área não seja nutrição, seus clientes provavelmente estão tentando alinhar a dieta com os objetivos de saúde. Cabe a você se informar – e talvez integrar orientações alimentares nos seus serviços.

Por exemplo, personal trainers podem sugerir receitas proteicas para ganho de massa, fisioterapeutas podem orientar sobre alimentos que acelerem a recuperação, e donas de clínicas podem firmar parcerias para venda de suplementos de qualidade no próprio espaço.

Pense também em conteúdo educativo: um breve guia de “lanches funcionais para pré-treino” ou um workshop sobre alimentação saudável podem fidelizar pacientes e destacar sua autoridade. Afinal, se você não falar sobre isso, o cliente vai buscar informação no Google… e nem sempre vai encontrar orientações seguras.

Provocação: quando seu paciente perguntar se vale a pena tomar aquele shot matinal de cúrcuma e gengibre, ou qual pó de “superfood” adicionar ao smoothie, você terá uma resposta embasada?

Tendência 2: beleza e bem-estar de mãos dadas

A fronteira entre cuidado estético e saúde está desaparecendo. Cada vez mais, produtos de beleza trazem ingredientes “do bem-estar” e vice-versa. Por exemplo, já existem cosméticos com ativos típicos de tratamentos terapêuticos (um creme com arnica para reduzir inflamação, ou óleo facial com CBD para acalmar) e, ao mesmo tempo, cresce o interesse por suplementos de beleza – ingestíveis que prometem melhorar pele, cabelo e unhas (como gominhas de colágeno). Beleza in e out – ou seja, tratar de dentro para fora – virou mantra para muitos consumidores.

Para a Geração Z, aparência faz parte do pacote de bem-estar. Nos EUA, “melhorar a aparência” saltou de sexta para terceira prioridade de saúde e bem-estar entre os Gen Z em apenas um ano . Esses jovens estão comprando produtos de skincare, maquiagem e afins a taxas mais altas que seus pais, impulsionados pela cultura do Instagram/TikTok que normalizou a rotina elaborada de cuidados pessoais.

Além disso, procedimentos estéticos deixaram de ser tabu: 46% dos consumidores americanos – e 53% dos Gen Z – gastaram mais com procedimentos cosméticos em 2024 do que em 2023 . E não para aí: a Gen Z projeta gastar ainda mais no próximo ano, inclusive adotando cedo métodos preventivos de antienvelhecimento (imagine pessoas de 25 anos fazendo procedimentos que antes só eram buscados aos 45!).

Com bem-estar e beleza tão interligados, surgem oportunidades de colaboração entre setores antes separados. Marcas e serviços podem se unir para entregar valor integrado. O estudo cita estratégias como co-marketing de produtos complementares. Por exemplo, uma clínica estética pode vender kits de suplementos vitamínicos junto com seus cremes, ou uma academia pode oferecer aparelhos de skincare doméstico aos alunos – e parcerias de distribuição inusitadas (já pensou encontrar vitaminas e suplementos na prateleira da sua perfumaria favorita, ou produtos de beleza à venda na recepção de um consultório de nutrição?).

Tudo isso reforça a mensagem: quem atua em saúde e bem-estar pode (e deve) surfar a onda da beleza integrativa.

O que você pode fazer na prática? Avalie como a dimensão “beleza” pode complementar seu serviço. Se você é nutricionista, que tal abordar com seus pacientes o impacto da alimentação na saúde da pele e dos cabelos?

Se tem uma clínica de saúde, considere ter um portfólio pequeno de dermocosméticos ou encaminhar clientes para parceiros de confiança em estética, mostrando que você cuida do paciente de forma 360º.

Profissionais de educação física podem incluir dicas de cuidados com a pele pós-treino (afinal, suor e pele também têm relação); já um psicólogo pode falar sobre autoestima e a autoimagem como parte do bem-estar mental.

O importante é não menosprezar a preocupação estética do seu cliente, ela é legítima.

Ao invés de ignorá-la, incorpore-a de forma saudável, sem nóias e de forma bem responsável.

Tendência 3: longevidade e envelhecimento saudável em foco

A preocupação em envelhecer bem deixou de ser exclusividade de idosos – tornou-se uma meta clara para todas as idades. Pesquisas mostram que até 60% dos consumidores globais dizem que “envelhecimento saudável” é uma prioridade máxima ou muito importante em suas vidas.

Mas o que isso significa na prática? Para o público, pode ser desde manter a mente afiada (prevenir perdas cognitivas), garantir independência física por mais tempo, viver muitos anos livre de doenças crônicas, até simplesmente ter energia de sobra para aproveitar a vida em qualquer idade .

Não por acaso, uma nova leva de produtos e serviços surgiu prometendo atender a essa demanda por longevidade. Temos cremes e tratamentos estéticos focados na saúde da pele a longo prazo (não apenas beleza imediata), suplementos que alegam retardar o envelhecimento celular, testes genéticos que estimam sua “idade biológica” e até fisioterapia virtual ou programas de exercício online voltados para mobilidade e equilíbrio na terceira idade.

Importante: longevidade não é assunto só de gente madura.

Há uma mudança cultural em curso – muitos jovens adultos já adotam uma postura proativa em relação a envelhecer bem, em vez de reativa. Ou seja, preferem prevenir agora a remediar depois.

A Geração Z e os millennials estão investindo em cuidados antecipados (como skincare anti-idade precoce, meditação para saúde mental futura, etc.), e isso deve continuar.

Contudo, reter esses clientes “prevenidos” pode ser desafiador: se um produto ou serviço só promete benefício em 20 anos, o jovem pode perder o interesse.

A dica é enfatizar também ganhos imediatos, por exemplo, se você vende um programa para melhorar a função cognitiva no longo prazo, destaque que ele também pode aumentar a disposição ou reduzir o estresse já nas primeiras semanas .

Para públicos mais velhos, por sua vez, a sensibilidade está em não reforçar estereótipos da idade. Ninguém gosta de ser lembrado da idade o tempo todo. Em vez de slogans do tipo “volte a ter 20 anos”, é mais eficaz focar nas necessidades específicas: melhorar a mobilidade, aliviar dores, fortalecer a musculatura, manter a autonomia na vida diária.

Como profissional ou dono de clínica, pense em como incorporar o tema da longevidade em seu portfólio. Se você é médico ou fisioterapeuta, pode desenvolver um programa de check-up e orientações preventivas para pacientes de meia-idade que querem se preparar para uma velhice saudável. Se trabalha com fitness, talvez criar turmas ou conteúdos voltados para “40+” com foco em flexibilidade, equilíbrio e força funcional (evitando lesões futuras). Nutricionistas podem enfatizar planos alimentares para prevenção de doenças (como osteoporose, demência) e estender o diálogo além do “aqui e agora”.

E na comunicação, ajuste o tom: inspire as pessoas a investir hoje para colher os frutos amanhã, mas sem cair no clichê de “fuja da velhice”.

Provocação: seu serviço ajuda clientes a ganhar vida (anos com qualidade, autonomia e vitalidade) ou você ainda está vendendo a ilusão de “elixir da juventude”? A diferença está em como entregamos e comunicamos valor.

Tendência 4: experiências presenciais e turismo de bem-estar

Depois de anos de digitalização e isolamento (pense na pandemia), as pessoas estão sedentas por experiências presenciais transformadoras.

Observa-se uma demanda crescente por serviços de bem-estar ao vivo – desde estúdios boutique de fitness e retiros de yoga/meditação até tratamentos de spa e infusões intravenosas de vitaminas.

Globalmente, os consumidores relataram ter consumido mais serviços presenciais de bem-estar neste ano do que no anterior, e a expectativa é de continuidade nesse crescimento.

The White Lotus? Quem assistiu?

Um dado marcante: a intenção líquida de compra (quem planeja aumentar menos quem planeja diminuir) para aulas fitness premium e retiros foi de +30% – ou seja, bem mais gente pretendendo gastar mais nessas experiências do que reduzir.

Nos EUA, esse apetite é ainda maior, enquanto na Europa destaca-se o interesse por terapias como IV drips (soros intravenosos de bem-estar).

Não só as pessoas estão gastando com experiências, como estão dispostas a viajar por elas.

Mais da metade dos americanos que usam serviços de bem-estar presenciais (56%) chegou a viajar mais de 2 horas para participar de retiros de bem-estar, e 45% viajaram distâncias similares para usufruir de termas ou aulas de yoga especiais.

E quem viajou, quer repetir: quase 60% dos que fizeram viagens com foco em saúde em 2024 dizem que pretendem viajar de novo pelo mesmo motivo no próximo ano.

Essa busca inclui a vontade de “resetar” a mente e o corpo, desconectar dos dispositivos digitais e mergulhar em cuidados intensivos consigo mesmo.

O setor de turismo já notou a tendência – hotéis, resorts e até cruzeiros estão criando pacotes voltados ao bem-estar para atrair esses clientes sedentos por uma pausa revigorante .

Um ponto interessante é que o cliente de hoje não quer só relaxar; ele quer aprender algo e levar para a vida.

Em um retiro, por exemplo, espera-se vivenciar atividades como meditação, alimentação saudável, yoga, e sair de lá equipado com novas práticas para incorporar no dia a dia (seja uma técnica de respiração ou uma receita detox).

Por isso, empresas inteligentes estão adicionando componentes educativos e de acompanhamento: há resorts com profissionais de bem-estar que interagem com o hóspede antes e depois da estadia para manter os resultados, apps integrados que monitoram o sono durante a viagem, e até programas temáticos – como retiros focados em menopausa, que ensinam sobre saúde hormonal enquanto fornecem tratamentos adequados.

Para profissionais autônomos e pequenos negócios de bem-estar, fica a lição: venda experiências, não apenas sessões. Pense em como tornar seu serviço memorável e imersivo. Talvez você possa organizar um workshop intensivo de fim de semana na natureza com seus alunos, ou uma manhã de “spa day” para pacientes da clínica (juntando aula de alongamento, meditação guiada e um brunch saudável).

Se isso não for viável regularmente, crie pelo menos momentos especiais dentro do atendimento: uma ambientação acolhedora, playlists, aromaterapia – detalhes que façam uma simples consulta parecer um pequeno retiro.

E não esqueça de oferecer conhecimento aplicável: ensine técnicas que o cliente possa praticar em casa depois. Essa abordagem aumenta o valor percebido e o engajamento.

Provocação: seu serviço é tão marcante que as pessoas viajariam horas para vivenciá-lo? Se a resposta for não, pense no que poderia torná-lo único – uma dose de “efeito retiro” pode ser o diferencial para fidelizar clientes e ganhar indicações entusiasmadas.

Tendência 5: gerenciamento de peso 2.0, tecnologia, medicamentos e mudança de abordagem

Controlar o peso sempre foi um dos pilares do mercado de bem-estar – e continua sendo, mas as formas de fazê-lo estão mudando.

Os desafios persistem: mais de 1 em cada 8 pessoas no mundo vive com obesidade, e os mais jovens relatam ter ainda mais dificuldade em gerenciar o peso do que os mais velhos.

Por exemplo, 44% da Gen Z nos EUA dizem que lutar contra a preguiça para se exercitar é difícil, contra 37% da população em geral. E mais de um terço dos jovens adultos (Gen Z e Millennials) nos EUA e Reino Unido afirmam que controlar o peso é “muito difícil” – enquanto, considerando todas as idades, esse índice é 27%.

Ou seja, os jovens sabem da importância do peso saudável, mas muitos não estão conseguindo manter hábitos efetivos no dia a dia.

Historicamente, a recomendação era simples: “coma menos e se exercite mais”. Porém, hoje vemos novas ferramentas e métodos ganhando popularidade.

Exercício físico ainda é a intervenção número 1, mas crescem as adesões a programas estruturados com nutricionistas, planos de refeições personalizadas e, mais recentemente, medicamentos prescritos para perda de peso.

Essas inovações estão mudando o jogo do emagrecimento, exigindo uma abordagem mais integrada. Por exemplo, quem toma um remédio como semaglutida precisa simultaneamente ajustar a alimentação e estilo de vida para obter bons resultados e minimizar efeitos colaterais.

De fato, criou-se um “ecossistema” ao redor desses novos medicamentos antiobesidade.

Pacientes em uso de GLP-1 tendem a focar em suprir necessidades nutricionais mesmo com menor apetite – isso impulsiona a procura por alimentos enriquecidos em proteínas e nutrientes, produtos para saúde intestinal (que aliviem desconfortos gastrointestinais comuns nesses tratamentos) e programas de exercícios voltados a ganho de massa magra, para evitar perda muscular durante o emagrecimento acelerado.

Como profissional, é hora de atualizar seu protocolo. Ignorar que existem pílulas e injeções modernas seria ingenuidade – muitos clientes vão chegar ao seu consultório curiosos ou já fazendo uso delas.

Em vez de ver a medicação como “inimiga” do seu serviço, encare-a como aliada potencial: posicione-se como um parceiro que oferece o complemento ético-necessário para um emagrecimento saudável.

Se você é nutricionista, por exemplo, pode desenvolver planos alimentares específicos para quem está usando essas medicações (foco em proteínas, fibras e hidratação).

Educadores físicos podem enfatizar treinos de força e reeducação postural para esses clientes (evitando sedentarismo e perda de músculo).

Profissionais de saúde e bem-estar podem ajudar no ajuste de hábitos e na motivação – afinal, mesmo com remédio, é preciso vencer a inércia e construir rotina. Além disso, vale investir em engajamento e tecnologia: aplicativos de acompanhamento, grupos de apoio online, gamificação de metas… tudo que ajude a manter o cliente motivado a longo prazo.

Provocação: quando alguém perguntar na sua frente sobre o “remédio milagroso do emagrecimento”, qual será sua postura – descartar o assunto ou mostrar que você domina o tema e sabe trabalhar junto com as novas ferramentas? A resposta a essa pergunta pode definir quem segue relevante no mercado de bem-estar de resultados.

Tendência 6: saúde mental e mindfulness em primeiro plano

Nunca se falou tanto em saúde mental, especialmente entre os mais jovens. Fatores como burnout no trabalho, ansiedade com clima/economia e o bombardeio das redes sociais impactam fortemente as gerações atuais. Pesquisa da McKinsey mostra que os jovens relatam estado mental pior que os mais velhos, mas, em contrapartida, estão mais engajados em buscar soluções.

Nos EUA, 42% dos Gen Z e millennials dizem que mindfulness (atenção plena) é prioridade altíssima em suas vidas, comparado a apenas 29% dos baby boomers . Esse dado ilustra a diferença de mentalidade: as gerações novas trazem o assunto “bem-estar mental” para o dia a dia, normalizando práticas de autocuidado que vão além de consultar um terapeuta.

Aliás, há uma diferença interessante de abordagem.

Enquanto muitos boomers e Gen X pensam em saúde mental sobretudo em termos de tratamento formal (terapia, psiquiatra, remédios, consultas ao médico etc.), os jovens adotam uma visão mais ampla e preventiva.

Eles experimentam de tudo em nome do equilíbrio mental: meditação via apps, skincare como ritual relaxante, cuidados com o sono, atividade física para aliviar a ansiedade, socializar com amigos como válvula de escape, criar novos hobbies.

Tudo isso entra no pacote de cuidar da cabeça. Claro, terapia profissional também é valorizada, mas não é o único caminho. Em resumo, para o público jovem, qualquer hábito que melhore o bem-estar psicológico vale, e empresas que atuam em nichos diferentes acabam concorrendo (ou colaborando) nesse espaço.

E por falar em empresas, um desafio enorme é escalar soluções de saúde mental com qualidade. O boom de aplicativos de meditação e bem-estar mental deixou o mercado concorrido – baixar um app calmante é fácil e barato, então reter usuários é outra história.

Além disso, apps de outras áreas (como fitness ou nutrição) adicionaram conteúdo de mindfulness, competindo diretamente pela atenção do usuário.

Diante disso, especialistas apontam que oferecer algo genérico (“meditação para todos”) pode não ser suficiente. Os produtos digitais que se destacam tendem a ter uma proposta de valor clara, focada em um público ou necessidade específica, em vez de tentar abraçar o mundo. Parcerias também ajudam a ganhar tração: um exemplo foi a colaboração entre um aplicativo de meditação e uma grande plataforma de streaming, que passou a divulgar conteúdos meditativos – resultado, um aumento de 70% nos cadastros do app ao longo de 18 meses.

Para profissionais de saúde e bem-estar, fica evidente que ignorar a dimensão mental não é opção. Mesmo que sua especialidade não seja psicologia, você pode (e deve) integrar noções de bem-estar mental ao seu serviço. Pequenos gestos fazem diferença: um personal trainer que reserva 5 minutos finais da aula para alongamento com respiração e mindfulness, uma nutricionista que aborda a relação entre alimento e humor, o fisioterapeuta que orienta o paciente em estresse sobre técnicas de relaxamento…

Tudo isso agrega valor e mostra ao cliente que você o enxerga de forma holística. Se você atua diretamente com terapia, talvez valha a pena se posicionar em um nicho (por exemplo, ansiedade em universitários, mindfulness para mães recentes ou mentoria de carreira sem burnout).

Assim você se destaca em meio a tantas ofertas genéricas. Considere também parcerias e conteúdo digital: lives no Instagram sobre saúde mental, colaboração com apps ou grupos de apoio locais, etc.

Reflexão: a próxima geração de clientes vai buscar em você mais do que um serviço técnico, vai esperar apoio integral corpo-mente. Você está preparada para essa conversa?

Possíveis estratégias para você se posicionar na “onda” do bem-estar

Como pudemos ver, o mercado de bem-estar está em plena transformação – impulsionado por novos hábitos, gerações e tecnologias. Para profissionais autônomos e donos de clínicas, isso representa um mundo de oportunidades, mas também exige adaptação. Para fechar, vale reforçar três princípios estratégicos que emergem de todos esses insights (e que a própria McKinsey destaca):

  • Integre e quebre barreiras: o bem-estar do cliente é 360 – ele não pensa em “caixinhas” separadas (saúde, alimentação, exercício, sono, aparência), mas sim em necessidades que englobam tudo isso. Portanto, derrube as barreiras entre categorias e ofereça soluções integradas, se possível. Isso pode significar conectar produtos, serviços e ferramentas digitais num ecossistema coeso para atender o cliente por completo. Exemplos: se você é fisioterapeuta, pode incluir acesso a um app para marcar exercícios e encaminhamento para pessoas parceiras. Se tem uma clínica, pode montar pacotes que unam serviço presencial com acompanhamento online e indicações de produtos de apoio. Pense em como facilitar a vida do cliente atendendo várias necessidades em conjunto, porque é assim que ele enxerga o próprio bem-estar, de forma abrangente

  • Destaque sua autoridade (com empatia): em meio a tanta oferta, consumidores buscam quem passe confiança e expertise de verdade. Aqui não se trata de usar jargão técnico ou adotar um tom professoral, mas de fundamentar suas recomendações em evidências e demonstrar competência. Dados e resultados falam alto: mencione conquistas, use depoimentos, apresente de forma clara o porquê da sua abordagem (seja um estudo científico simples que a respalde ou anos de experiência prática). Marcas que sinalizam esse rigor científico e entregam o que prometem acabam ganhando a preferência do público. Lembre-se: ser acessível é importante, mas ser confiável é indispensável. E confiança se ganha com transparência, consistência e colocando o bem-estar do cliente em primeiro lugar – sempre

  • Entregue valor de verdade: “valor” aqui não significa dar desconto ou ser “baratinho” – significa entregar um resultado ou experiência que o cliente perceba como valioso pelo que pagou. Consumidores definem valor de diferentes formas; não é só preço, mas qualidade do produto/serviço, custo-benefício, eficácia e conveniência . Portanto, cada profissional deve entender o que seu público mais preza e focar nisso. No fim do dia, as pessoas topam investir (e permanecem leais) quando sentem que estão recebendo benefício concreto e alinhado às suas necessidades, não apenas um rótulo ou moda passageira .

Em suma, o mercado global de bem-estar – agora de trilhões de dólares – está aberto para quem quiser inovar e evoluir junto.

Profissionais e clínicas que agirem agora para atender necessidades não supridas, conquistar a confiança do público e entregar valor consistente têm tudo para transformar os ventos favoráveis de hoje na vantagem competitiva de amanhã.

Que as tendências e provocações apresentadas aqui sirvam de inspiração para você repensar seu posicionamento e encontrar novas formas de crescer.

Afinal, bem-estar não é só tendência; é um estilo de vida que veio para ficar. E você, como especialista ético, pode e deve ser um protagonista nessa jornada.

Inclusive acompanhando a recém agenda legislativa do Brasil.

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